sexta-feira, 24 de junho de 2016

Falta de aceitação dos pais atrasa o desenvolvimento de filhos especiais

Conceito errado sobre os serviços realizados na Apae faz com que responsáveis por crianças deficientes não procurem ajuda.
O primeiro passo para iniciar o tratamento de um filho com deficiência é a aceitação dos pais. Só que o preconceito, algumas vezes, fala mais alto e acaba atrasando o desenvolvimento daqueles que precisam de uma atenção especial. A diretora da Apae de Araranguá, Clarinda de Vila, explica que, por falta de conhecimento, algumas pessoas têm uma ideia errada sobre o serviço realizado na instituição.
“As pessoas se preocupam em como vai ser a aceitação da sociedade com o filho deficiente e acabam tardando a entrada na Apae. Mas a gente percebe que aos poucos, se informando e conhecendo a importância do trabalho, o preconceito vai diminuindo”, informa a diretora.
A aceitação não acontece de um dia para o outro. De acordo com a psicóloga Jamily Trento, o processo inicia quando os pais descobrem que o filho é deficiente.
“A primeira reação é a de choque, em seguida vem o próprio luto pela “perda” de um filho saudável, depois os pais começam a se sentir culpados, e, por último, a família precisa se reorganizar para aceitar a deficiência”, explica.  Conforme Jamily, é fundamental que os pais que tenham dificuldade para aceitar as deficiências dos filhos procurem ajuda profissional.
Assumir que o filho precisa de ajuda é mais que responsabilidade dos pais, é um ato de amor. Um ato que, segundo a psicóloga, pode fazer grande diferença no desenvolvimento dessas pessoas. “A partir do momento em que a família realmente aceita a deficiência do filho, o trabalho é mais eficaz e os resultados mais positivos”, acrescenta.
Pais precisam reconhecer que filhos precisam de ajuda
A dona Jovita da Silva tem um filho deficiente de 33 anos. Ele nasceu com deficiência intelectual severa, mas hoje já consegue se comunicar melhor, expressar suas necessidades e até andar. Só que, conforme a dona de casa, isso só foi possível porque lá no início de vida do garoto ela reconheceu que o filho precisava de ajuda e procurou pela Apae.
“Os profissionais da Apae foram fundamentais no tratamento do meu filho. Se ele não tivesse recebido o acompanhamento da instituição desde cedo, certamente não teria se desenvolvido tão bem e, talvez, hoje não conseguisse nem ficar em pé”, relata.
Esta aceitação também foi a receita para que o filho da Andreza de Souza de dois anos conseguisse ter uma vida normal. O rapaz nasceu prematuro e, por causa disso, acabou tendo um atraso no desenvolvimento físico e intelectual. Realidade que já está sendo revertida com um acompanhamento profissional.
“No início, a gente tem aquele preconceito, mas depois que conhece a eficiência dos serviços realizados na instituição, percebe que é fundamental para que nossos filhos possam viver bem”, completa.

Filipe Gabriel Teixeira é acadêmico do curso de Jornalismo da Faculdade Satc e faz assessoria de imprensa voluntária para a Apae de Araranguá.

Escolas que excluem o aluno com deficiência, vocês perderam



Escolas particulares – isto é, instituições de ensino com finalidade lucrativa – são contra o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), no ponto em que as obriga a promover a inclusão plena dos alunos com alguma deficiência, sem, por isso, cobrar "valores adicionais".


A lei impõe o óbvio a quem se propõe a educar, exigindo que sejam garantidas condições de acesso, permanência e aprendizagem a todos os estudantes, sem exclusão. Isso indignou empresários da educação. Para eles, feriria o direito "sagrado" de propriedade, elevando muito os custos do negócio...
Querem limitar o acesso daqueles que não cabem em seu molde. Caso sejam obrigados a aceitá-los, querem cobrar mais caro. Fico pensando se o raciocínio se estende ao aluno com dificuldade em matemática, ao que joga bola mal, ou àquele que, por ser muito inteligente, demanda uma atenção especial. Eles também devem pagar mais? E se não puderem, devem ser excluídos? Enfim, a discriminação se limita à pessoa diagnosticada com deficiência física ou intelectual, ou se estende a outros grupos?
A visão distorcida da liberdade de ensinar permite a esses "educadores" concluir que podem inclusive negar a educação, quando o assunto é o sucesso empresarial. Afinal, seu fim não é educar, é ganhar dinheiro. A educação é só o meio, o empreendimento para isso.
Ajuizaram, então, ação no Supremo Tribunal Federal (STF), pedindo que a Lei fosse considerada inconstitucional quando determina a obrigação das escolas particulares de educar, com qualidade, inclusive a pessoa com deficiência. Questionam-na, ainda, porque expressamente proíbe a cobrança adicional.
Pois bem. Perderam! A ação foi julgada improcedente.
A decisão teve como Relator o Ministro Edson Fachin. É uma aula sobre a importância da pluralidade e do convívio com a diferença na educação. É uma aula sobre os riscos de nos fecharmos ao outro, na clausura que "furta o colorido da vivência cotidiana".
Explica aos empresários que o fato de o serviço público de educação ser livre à iniciativa privada não significa autorização para a exploração irresponsável: "à escola não é dado escolher, segregar, separar, mas é seu dever ensinar, incluir, conviver". O ensino privado, continua o Ministro do STF, não pode privar os estudantes da construção diária de uma sociedade inclusiva e acolhedora. Não pode se transformar num local de exclusão.
A questão está decidida. Escolas particulares, vocês não podem excluir o aluno com deficiência. É inconstitucional. Se, para vocês, o respeito e inclusão plena significam "custos" excessivos que prejudicam o lucro, o melhor é mudarem o ramo de seus negócios. É um bem que fazem à educação nacional.
Aos que discordam de Fachin, concordando com o caminho odioso da exclusão: não me levem a mal, mas sua visão de mundo se assemelha muito ao nazismo. Buscava "eficiência", "ordem", uniformidade, por meio da eliminação do diferente.
O nazismo que, diga-se a propósito, como me ensinou o professor Eduardo Bittar, não foi, absolutamente, um acidente na "evolução" da humanidade. Foi a realização perfeita da razão matemática que não suporta o plural, o ambivalente, o diferente que não cabe em nossas pobres certezas.
É uma pena que a correção de caminho, que o nosso esclarecimento e humanização dependam de decisões judiciais.
FONTE: Guilherme Perez Cabral - Advogado e professor, doutor em filosofia e teoria geral do direito.