quarta-feira, 26 de abril de 2017

TRATAMENTOS DO AUTISMO

Ao longo das últimas duas décadas, com o aumento do número de bebês e crianças diagnosticadas com TEA (Transtorno do Espectro Autista), houve uma necessidade de intervenções efetivas e apropriadas para crianças e suas famílias. A preferência para instrução deve ser em a) comunicação funcional, espontânea; b) instrução social em diferentes contextos; c) habilidades em jogos, com foco na interação com o outro; d) manutenção de habilidade nova e generalização em contextos naturais; e e) avaliação funcional e apoio a atitude positiva  para abordar problemas comportamentais. Os efeitos da intervenção devem ser avaliados regularmente com intervalos de 3 a 6 meses, focando em: a) habilidades sociais; b) habilidades comunicativas; c) habilidades adaptativas; d) habilidades organizacionais. O Quadro abaixo mostra as características essenciais de intervenções efetivas para crianças com TEA. A falta de progresso significante em qualquer campo, dentro de um período de 3 a 6 meses, deve incitar a modificação da abordagem ou intensidade do tratamento.
Características essenciais de intervenções efetivas para crianças com Transtorno do Espectro Autista.
1) Iniciar os programas de intervenção o mais cedo possível.
2) Tratamento intensivo, 5 dias por semana, por no mínimo 5 horas por dia.
3) Uso de oportunidades de ensino planejado repetidas, que sejam estruturadas durante breves períodos de tempo.
4) Suficiente atenção adulta, individualizada e diária.
5) Inclusão de um componente familiar, incluindo treinamento para os pais.
6) Mecanismos para avaliação contínua, com ajustes correspondentes na programação.
Abordagens de Tratamento do Autismo

Treinamento dos pais
Análise Aplicada do Comportamento

  • Reforço positivo: uso de prêmio, lanche, comida, brinquedos para aumentar comportamentos desejáveis;
  • Moldagem: recompensa por aproximações ou componentes de um comportamento desejável, até que esse comportamento almejado seja alcançado;
  • Desvanecimento: redução de instruções para aumentar a independência;
  • Extinção: remoção de reforço, mantendo um problema comportamental;
  • Punição: aplicação de estímulo indesejável para reduzir problemas comportamentais;
  • Reforço diferencial: reforço de uma alternativa socialmente aceitável ou a falta de um comportamento;
  • Foco no desenvolvimento precoce (crianças com menos de 5 anos de idade);
  • Intensidade (instruções individuais ou em pequenos grupos, de 20 à 40 horas por semana);
  • Métodos direcionados à adultos;
  • Abordagem sistemática (dividindo habilidades em componentes básicos);
  • Caráter abrangente (ex. os objetivos incluem comunicação, socialização, comportamentos adaptativos, comportamentos problemáticos).

Tratamento e Educação para Crianças Autistas e Crianças com Déficit relacionados com  a Comunicação (TEACCH)
Terapia cognitivo-comportamental (TCC)
Tratamento farmacológico para sintomas-alvo

A participação dos pais e dos familiares é considerada um elemento essencial nos programas de intervenção para crianças com autismo.O pressuposto básico do treinamento comportamental dos pais, é que o comportamento das crianças é aprendido e mantido através de contingências dentro do contexto familiar, e que os pais podem ser ensinados a mudar essas contingências para promover e reforçar o comportamento adequado.
Evidências envolvendo crianças apóiam a recomendação de treinamento para os pais como um método efetivo para o aumento de habilidades sociais. No entanto, a maneira com a qual os pais são incorporados no processo de intervenção é importante, assim como a individualização do programa de educação parental para se considerar diferentes circunstâncias e necessidades familiares; nem todos os pais se beneficiam dos programas de educação parental comportamental tradicionais. A educação parental parece funcionar melhor com adultos altamente motivados e com bom funcionamento, que não estejam lidando com estresses de vida ou estresses psicológicos adicionais, o que interfere na aquisição e na implementação de estratégias parentais positivas.
A Análise Aplicada do Comportamento (ABA – Applied behavior analysis) é a ciência da mudança de comportamento na qual procedimentos oriundos dos princípios da aprendizagem operante são aplicados para melhorar o comportamento socialmente adaptável e a aquisição de novas habilidades através de práticas intensas e reforço direcionado. A ABA utiliza um processo que começa com o desenvolvimento de planos de tratamento, mostrando o motivo e a função de excessos e deficiências de comportamento, seleção de técnicas apropriadas, e modificação e avaliação contínuas do tratamento através de coleta de dados sistemática. As avaliações funcionais de comportamento são um conjunto de avaliações de estratégias que fornecem informações sobre as variáveis associadas com um comportamento específico.As técnicas de aprendizado operantes usadas na intervenção da ABA para crianças com TEA são:
Programas de intervenção baseados na ABA são atualmente vistos como tratamentos de primeira linha para o TEA no início da infância. Tanto o modelo UCLA/Lovaas quanto o Early Start Denver Model (ESDM), que são programas amplos na intervenção precoce, criados na estrutura da ABA, possuem relatórios de pesquisas de alta qualidade documentando suas eficácias,especialmente na melhoria do desempenho cognitivo, habilidades lingüísticas, e comportamento adaptativo. No entanto, nos primeiros estudos avaliando os benefícios do ESDM, mesmo depois de dois anos de intervenção intensiva (com mais de 20 horas semanais), todas as crianças no grupo de tratamento ativo ainda atendiam aos critérios do TEA, documentando o desafio da melhora de déficits sociais. A Intervenção Comportamental Intensiva Precoce (EIBI – Early Intensive Behavioral Intervention) é uma estratégia utilizada nos estudos Lovaas  e é o modelo ABA com o suporte empírico mais forte até o momento. A EIBI utiliza abordagens de ensino operantes para reduzir problemas comportamentais e formação de julgamento discreta para desenvolver novas habilidades, como atenção, imitação, recepção/expressão de discurso e competências para a vida. As principais características do EIBI são:
O TEACCH é um serviço clínico e programa de treinamento profissional baseado na sala de aula, desenvolvido na Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill, e iniciado em 1972 por Eric Schopler.Esse programa tem sido amplamente incorporado nos contextos educativos norte americanos, e tem contribuído significativamente para uma base concreta de intervenções do autismo. A abordagem do TEACCH é chamada de estrutura de ensino porque tem como base a evidência e a observação de que indivíduos com autismo compartilham um padrão de comportamentos, como as formas que os indivíduos pensam, comem, se vestem, compreendem seu mundo e se comunicam. Os mecanismos essenciais da estrutura de ensino consistem na organização do ambiente e atividades de maneiras que possam ser compreendidas pelos indivíduos;  no uso dos pontos fortes dos indivíduos em habilidades visuais e interesse em detalhes visuais para suprir habilidades relativamente mais fracas; no uso dos interesses especiais dos indivíduos para engajá-los no aprendizado; e apoio ao uso de iniciativa própria em comunicação significativa.
Um crescente número de relatórios começaram a fornecer evidências moderadas para a eficácia da abordagem da TCC para crianças em idade escolar e jovens adolescentes com TEA. Melhoras na ansiedade, na auto-ajuda e nas habilidades do dia-a-dia têm sido relatadas, com 78% das crianças de 7 a 11 anos no grupo tratado com a TCC classificadas com uma resposta positiva em um teste.Tais descobertas encorajam a consideração de abordagens da TCC modificadas para abordar a ansiedade em crianças com TEA que tenham alto nível funcional, o que é importante, considerando que de 30 a 40% das crianças com TEA relatam níveis altos de sintomas relacionados à ansiedade.
O tratamento farmacológico no TEA é altamente empregado como uma abordagem de tratamento adjuvante na maioria dos indivíduos com TEA ao longo da vida. As melhores metas estabelecidas pela farmacoterapia são para controlar sintomas-alvos associados, como a insônia, hiperatividade, impulsividade, irritabilidade, auto e hetero agressões , falta de atenção, ansiedade, depressão, sintomas obsessivos, raivas, ataques de cólera, comportamentos repetitivos ou rituais. Inúmeros estudos têm relatado um aumento na prevalência de comorbidades psiquiátricas nessa população.Até o momento, não há medicações disponíveis para tratar os déficits sociais e de comunicação centrais do autismo, embora este seja um assunto de intensos esforços na pesquisa, com agentes como arbaclofen, ocitocina, e mGluR5, antagonistas como exemplos de potenciais tratamentos modificadores de desordem sob estudo.
Com base nos relatos dos pais, os comportamentos mais difíceis das crianças com TEA são limite baixo para frustrações, distração, irritabilidade, falta de atenção, hiperatividade, repetição compulsiva, isolamento, instabilidade de humor e movimentos de mãos estereotipados.
A TEA representa uma grande preocupação na saúde pública como sendo um distúrbio do desenvolvimento neurológico prevalente, com risco acentuado para a falha de adaptação em situações sociais, educacionais e psicológicas. Porque a identificação de atrasos e desvios da TEA são possíveis desde os 18-24 meses de idade, pediatras devem se esforçar para identificar e começar a intervenção em crianças com TEA tão cedo quanto os sinais se manifestarem. Escalas e instrumentos específicos devem ser usados para avaliar manifestações clínicas, e guiar a construção e monitoria de programas de tratamento abrangentes. Uma verdadeira recuperação do autismo não foi relatada na história, mas terapias educacionais, psicossociais e linguísticas, frequentemente combinadas com tratamentos adjuvantes, como terapia com drogas para sintomas específicos, estão bem estabelecidas para seus benefícios no TEA. A natureza complexa e persuasiva do TEA requer uma equipe de múltiplos profissionais para um diagnóstico apurado e cuidados clínicos.

FONTE: http://autismoerealidade.org

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quarta-feira, 19 de abril de 2017

O autismo e a seletividade alimentar

Pessoas com autismo frequentemente apresentam problemas com a alimentação. Para entender esses problemas, é preciso compreender a rigidez no pensamento e os distúrbios sensoriais, que são características do autismo. Isso quer dizer que a seletividade alimentar não é uma frescura. Muitas crianças que estão dentro do espectro apresentarão um paladar restrito, que pode se modificar com o tempo, mas que será sempre limitado.
A seletividade pode estar direcionada a uma cor ou tipo de textura. Muitas vezes não encontramos uma regra ou especificação que a determine, a criança simplesmente não tem vontade de se alimentar. Fazem por obrigação ou por entenderem que realmente precisam. Para as famílias destas crianças, as refeições costumam ser momentos tensos e desafiadores. Uma verdadeira batalha diária.
Primeiramente é interessante identificar quais áreas estão mais afetadas: se a criança come sozinha, se serve sozinha, se aceita alimentos variados, se mastiga adequadamente, se consegue utilizar os talheres, se permanece sentada à mesa, se não gosta nem de olhar para o prato, etc.
Não considerando as causas médicas (alergias e intolerâncias), existem algumas táticas que podem ser adotadas no dia a dia para aumentar autonomia das crianças à mesa e melhorar a qualidade da alimentação:
  1. Sentar sempre à mesa, nos mesmos horários, sem distrações, como TV ou brinquedos. Nem sempre é possível, mas o ideal é que todos da família sentem-se juntos nas refeições.
  2. Convidar a criança a participar do preparo dos alimentos, em algo compatível com suas capacidades. Pode ser lavar os legumes, separar galhinhos de couve-flor, fazer bolinhas com a massa de nhoque…. Durante o preparo, incentivar que ela experimente algo novo. Convidá-la também para a arrumação da mesa.
  3. Fazer o prato da criança colocando pouca comida e com uma variação de cores, mesmo que sejam alimentos que ela não coma. Faça um prato igual para você. Quando a criança for maior, estimule que ela faça o prato sozinha.
  4. Estimular que ela alimente-se sozinha incentivando o uso de talheres. Ajudar no início, colocando a comida na colher e levando-a até a boca da criança.
  5. Demonstrar como utilizar os talheres, colocar pouca comida na boca, mastigar com a boca fechada. Se a criança mastigar com a boca aberta, feche delicadamente o queixo dela, demonstrando como deve ser feito.
  6. Oferecer de formas diferentes alimentos que ela não goste de comer. Por exemplo: se ela não gosta de saladas, experimente fazer panquecas com a massa de espinafre ou uma torta salgada com a massa de couve.
  7. Estimular que a criança participe também da limpeza, jogando os restos no lixo e levando o prato à pia.
Ok. Mas e se nada disso der certo? Será que os pais não estão sendo preguiçosos ao desistir e acabar oferecendo sempre os mesmo alimentos? Definitivamente NÃO! Vejo por mim: faço cardápios variados, coisas que eu sei que são preferência do meu filho, trago coisas novas, invento receitas diferentes. Mas ele simplesmente não tem vontade de comer. Sabe aquele prazer que sentimos ao sentar à mesa, preparar os alimentos, sentir o cheirinho da comida…? Vejo que para ele isso não existe. Então, mesmo que eu tenha preparado com o maior amor do mundo, ele não come.

Pontos a considerar:

  • Os alimentos precisam estar separados no prato, não misture os itens. De preferência, use pratos com separação.
  • Para quem tem rigidez no pensamento, é reconfortante comer sempre a mesma coisa. Tente inserir um alimento diferente por vez. Isso quer dizer que você irá colocá-lo à mesa no primeiro dia e no prato nos dias seguintes. Vai dar tempo para que a criança se acostume com o cheiro, o visual, a textura, a aparência. Se mesmo assim ela não o aceitar, você substitui por outro alimento. Mas sempre um por vez.
  • Não demonstre sua ansiedade e expectativa durante a refeição. Faça com que seja um momento tranquilo, sem pressionar a criança. Alguns dias serão melhores que outros, mas nossa ansiedade não ajudará.
  • Não permita que as refeições sejam feitas em outros lugares. O cérebro autista aprende melhor quando segue uma rotina.
  • Utilize como incentivo o prato ou jogo americano de algum personagem que ela goste.
  • Não castigue se a criança não se alimentar ou comer pouco! A rotina é que criará o hábito da alimentação correta.
Por Amanda Puly

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