quarta-feira, 19 de abril de 2017

O autismo e a seletividade alimentar

Pessoas com autismo frequentemente apresentam problemas com a alimentação. Para entender esses problemas, é preciso compreender a rigidez no pensamento e os distúrbios sensoriais, que são características do autismo. Isso quer dizer que a seletividade alimentar não é uma frescura. Muitas crianças que estão dentro do espectro apresentarão um paladar restrito, que pode se modificar com o tempo, mas que será sempre limitado.
A seletividade pode estar direcionada a uma cor ou tipo de textura. Muitas vezes não encontramos uma regra ou especificação que a determine, a criança simplesmente não tem vontade de se alimentar. Fazem por obrigação ou por entenderem que realmente precisam. Para as famílias destas crianças, as refeições costumam ser momentos tensos e desafiadores. Uma verdadeira batalha diária.
Primeiramente é interessante identificar quais áreas estão mais afetadas: se a criança come sozinha, se serve sozinha, se aceita alimentos variados, se mastiga adequadamente, se consegue utilizar os talheres, se permanece sentada à mesa, se não gosta nem de olhar para o prato, etc.
Não considerando as causas médicas (alergias e intolerâncias), existem algumas táticas que podem ser adotadas no dia a dia para aumentar autonomia das crianças à mesa e melhorar a qualidade da alimentação:
  1. Sentar sempre à mesa, nos mesmos horários, sem distrações, como TV ou brinquedos. Nem sempre é possível, mas o ideal é que todos da família sentem-se juntos nas refeições.
  2. Convidar a criança a participar do preparo dos alimentos, em algo compatível com suas capacidades. Pode ser lavar os legumes, separar galhinhos de couve-flor, fazer bolinhas com a massa de nhoque…. Durante o preparo, incentivar que ela experimente algo novo. Convidá-la também para a arrumação da mesa.
  3. Fazer o prato da criança colocando pouca comida e com uma variação de cores, mesmo que sejam alimentos que ela não coma. Faça um prato igual para você. Quando a criança for maior, estimule que ela faça o prato sozinha.
  4. Estimular que ela alimente-se sozinha incentivando o uso de talheres. Ajudar no início, colocando a comida na colher e levando-a até a boca da criança.
  5. Demonstrar como utilizar os talheres, colocar pouca comida na boca, mastigar com a boca fechada. Se a criança mastigar com a boca aberta, feche delicadamente o queixo dela, demonstrando como deve ser feito.
  6. Oferecer de formas diferentes alimentos que ela não goste de comer. Por exemplo: se ela não gosta de saladas, experimente fazer panquecas com a massa de espinafre ou uma torta salgada com a massa de couve.
  7. Estimular que a criança participe também da limpeza, jogando os restos no lixo e levando o prato à pia.
Ok. Mas e se nada disso der certo? Será que os pais não estão sendo preguiçosos ao desistir e acabar oferecendo sempre os mesmo alimentos? Definitivamente NÃO! Vejo por mim: faço cardápios variados, coisas que eu sei que são preferência do meu filho, trago coisas novas, invento receitas diferentes. Mas ele simplesmente não tem vontade de comer. Sabe aquele prazer que sentimos ao sentar à mesa, preparar os alimentos, sentir o cheirinho da comida…? Vejo que para ele isso não existe. Então, mesmo que eu tenha preparado com o maior amor do mundo, ele não come.

Pontos a considerar:

  • Os alimentos precisam estar separados no prato, não misture os itens. De preferência, use pratos com separação.
  • Para quem tem rigidez no pensamento, é reconfortante comer sempre a mesma coisa. Tente inserir um alimento diferente por vez. Isso quer dizer que você irá colocá-lo à mesa no primeiro dia e no prato nos dias seguintes. Vai dar tempo para que a criança se acostume com o cheiro, o visual, a textura, a aparência. Se mesmo assim ela não o aceitar, você substitui por outro alimento. Mas sempre um por vez.
  • Não demonstre sua ansiedade e expectativa durante a refeição. Faça com que seja um momento tranquilo, sem pressionar a criança. Alguns dias serão melhores que outros, mas nossa ansiedade não ajudará.
  • Não permita que as refeições sejam feitas em outros lugares. O cérebro autista aprende melhor quando segue uma rotina.
  • Utilize como incentivo o prato ou jogo americano de algum personagem que ela goste.
  • Não castigue se a criança não se alimentar ou comer pouco! A rotina é que criará o hábito da alimentação correta.
Por Amanda Puly

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