São bebés, são lindos, fofinhos, prodigiosos, tudo o que
fazem tem graça, gerando olhares embevecidos, são ingênuos, indefesos,
desconhecem limites e perigos, são “reis e senhores” e o centro de todas as
atenções. Mas eles crescem e algumas coisas mudam, ou deveriam! Aos 10 meses,
já reconhecem o significado da palavra-chave: NÃO e é através deste conceito
que estabelecem os limites do que lhes é ou não permitido, aprendendo as regras
essenciais para
uma saudável convivência.
Um NÃO proferido com firmeza e coerência, sem espaço para o
porque nem porquê, gera choro, birra, olhares angelicais de súplica, numa
operação de “charme” estratégica, orquestrada por um ser adorável que procura
aliviar a sua frustração em ser contrariado, tentando demover/seduzir a fonte
de proibição, ao qual se juntam outras vozes: “Deixa, não ralhes! Ainda é tão
pequenino e é tão querido, logo tem tempo para aprender que não deve fazer! É
tão engraçado!”. Face às várias “pressões”, ceder é tentador e a mais fácil das
soluções, mas é também perder a oportunidade, crucial, de, na altura certa,
corrigir comportamentos e atitudes indesejada. Regra geral, se ao 1 ano de
idade, um comportamento pouco adequado pode ter alguma graça, aos 2 anos, a
mesma atitude nada tem de engraçado e aos 3 é inaceitável mas a criança não o
percebe porque faltou o tal NÃO no momento fulcral, a primeira vez. E surge na
criança a dúvida, a revolta e a recusa em aceitar, baseado numa lógica muito
válida ”Por que razão, de repente lhe é proibido, o que até então sempre lhe
foi permitido?”
Surpreendentemente, há crianças que parecem nunca ter ouvido
um verdadeiro e contundente NÃO no seio familiar, e quando, na escola, são
confrontados com um, a sua tendência é ignorar, a revolta e o questionar a
autoridade da pior forma possível, vêm logo a seguir. E começam os “problemas”,
com tendência a multiplicarem-se… A Escola é um local onde imperam regras de
convivências elementares, a cumprir e respeitar por todos, as atenções
centram-se em muitos, cada vez mais, e em nenhum, há tarefas para realizar,
mesmo que não apeteça e/ou não se goste, não podendo estar sujeita aos
caprichos, desejos e vontades de uma só criança, em detrimentos do grupo!
Conversando com os pais sobre as atitudes do seu rebento, constata-se que há 2
tipos de pais: os que responsabilizam o filho, pedindo, envergonhados, desculpa
em seu nome, tomando, de imediato, medidas; e depois há os pais cuja reação
imediata é a desculpabilização (a sua e do respetivo menino, por vezes fica a
dúvida qual é a mais premente) e infelizmente, estes são os que mais
frequentemente são chamados à Escola. Os argumentos vão variando mas, em
resumo, as ideias chave do seu discurso são “se em casa, corre tudo tão bem, a
culpa só pode ser da Escola, dos professores ou dos colegas”, “Mas foi só ele?
E os outros colegas?”, “Eu não costumo ralhar com ele pois ele só tem essas
atitudes na escola. Por isso se foi aqui que as aprendeu, a escola é que tem de
resolver. O problema é da escola”, “Estou tão pouco tempo com ele que não tenho
coragem nem tempo, nos poucos momentos que estamos juntos, de me chatear e
ralhar como ele”, “O meu filho não mente. E não foi isso que ele me contou por
isso não deve estar a ver bem a questão!”, “Ele é muito imaturo, foi só uma
brincadeira. Não percebo a necessidade desta tempestade num copo de água!”,
“Não está habituado a que falem rispidamente com ele e por isso é que reagiu
assim, se lhe tivessem falado calmamente, como nós fazemos, ele tinha
obedecido. O professor não pode gritar com ele! Ninguém grita nem toca no meu
filho!”, minutos infindáveis a justificar o injustificável, onde a culpa, esse
ser exógeno, que se diz morrer solteira, é sempre depositada em outrem,
obviamente. Este tipo de pais assume, primeiramente, o papel de grande amigo e
defensor do seu petiz, descurando as suas funções principais: EDUCAR e
responsabilizar. Provavelmente, estes pais chegarão, mais cedo ou mais tarde à
conclusão que vários outros já chegaram “Já não consigo fazer nada dele, não
sei onde falhei! Se os professores conseguirem, agradecemos imenso!”. A uns e a
outros, valeria a pena retroceder um pouco no tempo e recordar-lhes: todos os
espetáculos que deixaram o seu petiz deambular/correr pela sala, fazendo
barulho, quando todas as outras crianças permaneciam sentadas, em silêncio,
atentas à atividade e não lhe disseram NÃO “porque afinal o espetáculo não
estava a ser cativante”, ou de todas as vezes que não o impediram de arrastar,
ruidosamente, as cadeiras pela casa, não lhe dizendo NÃO “porque os vizinhos já
estão habituados, não se importam” ou quando escolheram não intervir ao vê-lo
morder ou cuspir um amigo, não lhe dizendo NÃO “porque são coisas da idade e
logo passam. O melhor é não dar importância e ignorar.” ou quando, no supermercado,
face à sua birra espalhafatosa e aos olhares acusatórios dos transeuntes, não
lhe disseram NÃO, e lhe compraram, uma e outra vez, mais um brinquedo, para
juntar à sua enorme coleção, ou quando foi mal educado ou retirou um brinquedo
sem pedir autorização e não lhe disseram NÃO, obrigando-o a pedir desculpa, ou
quando não lhe corrigiram a dicção de determinadas palavras “porque até tem
graça o seu falar à bebé”… Quando desculpabilizar, e não responsabilizar e
retificar, foi prática corrente, durante anos, inverter o sentido, torna-se
deveras complicado; e a Escola pouco, ou nada, pode fazer nestes casos, quando
a iniciativa, não provém de quem tem esse dever, responsabilidade e poder: os
PAIS.
Estabelecer limites e os ditos comportamentos ajustados é algo
que se constrói desde tenra idade, num percurso atribulado cheio de pequenos
avanços, alguns retrocessos e muitas dúvidas, num processo dinâmico e
progressivo. Há “batalhas” essenciais que só poderão ser conquistadas, com
muitas lágrimas e contrariedades, desferindo golpes impiedosos de “NÃO, NÃO e
NÃO”, sem hesitações, justificações ou negociações, ignorando os olhares de
soslaio e reprovadores de muitos, que criticam velada, ou abertamente, uma
postura, que parece estar pouco em voga: obediência, respeito e
responsabilidade, sem desculpas, subterfúgios ou cedências. Há “batalhas” que
se podem ignorar, a bem da sanidade mental de todos, pois desaparecem, não
deixando sequelas, o tempo e a maturidade encarregam-se delas. As “batalhas”
essenciais nas quais não se deve baixar os braços nem dar tréguas, por muito
que às vezes apeteça, prendem-se com os princípios e os valores que se
consideram fundamentais e se pretendem transmitir para que sirvam de linha
orientadora na sua vida futura. Não é fácil e não há “garantias” mas
estabelecendo limites, incutindo regras, desde sempre, aumenta
significativamente a probabilidade de, no futuro, determinadas situações ou
questões não se colocarem.
Educar é ser firme e presente, muitas vezes, não impedindo a
“queda”, mas alertando para a sua possibilidade e consequência; perante a
“queda”, não é ergue-los em braços mas sim amparar/dar a mão para que se
lembrem o que lhes custou levantar. Educar é também ter muitas dúvidas, e
ganhar muitos cabelos brancos, ao longo do percurso; é escolher o caminho onde
se vislumbra a (nossa) luz ao fundo do túnel, ignorando, muitas vezes, o
caminho mais fácil ou o que os outros seguem/apontam ou o ladeado de holofotes,
é saber dizer NÃO, o número de vezes necessárias, na altura e idade certa, sem
peso na consciência ou medo de perder o amor do petiz. EDUCAR é um ato de
coragem, abnegação e determinação mas, essencialmente, de amor.
FONTE: www.comregras.com
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