quinta-feira, 13 de outubro de 2016

O poder de saber dizer “NÃO!”

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São bebés, são lindos, fofinhos, prodigiosos, tudo o que fazem tem graça, gerando olhares embevecidos, são ingênuos, indefesos, desconhecem limites e perigos, são “reis e senhores” e o centro de todas as atenções. Mas eles crescem e algumas coisas mudam, ou deveriam! Aos 10 meses, já reconhecem o significado da palavra-chave: NÃO e é através deste conceito que estabelecem os limites do que lhes é ou não permitido, aprendendo as regras essenciais para uma saudável convivência.

Um NÃO proferido com firmeza e coerência, sem espaço para o porque nem porquê, gera choro, birra, olhares angelicais de súplica, numa operação de “charme” estratégica, orquestrada por um ser adorável que procura aliviar a sua frustração em ser contrariado, tentando demover/seduzir a fonte de proibição, ao qual se juntam outras vozes: “Deixa, não ralhes! Ainda é tão pequenino e é tão querido, logo tem tempo para aprender que não deve fazer! É tão engraçado!”. Face às várias “pressões”, ceder é tentador e a mais fácil das soluções, mas é também perder a oportunidade, crucial, de, na altura certa, corrigir comportamentos e atitudes indesejada. Regra geral, se ao 1 ano de idade, um comportamento pouco adequado pode ter alguma graça, aos 2 anos, a mesma atitude nada tem de engraçado e aos 3 é inaceitável mas a criança não o percebe porque faltou o tal NÃO no momento fulcral, a primeira vez. E surge na criança a dúvida, a revolta e a recusa em aceitar, baseado numa lógica muito válida ”Por que razão, de repente lhe é proibido, o que até então sempre lhe foi permitido?”

Surpreendentemente, há crianças que parecem nunca ter ouvido um verdadeiro e contundente NÃO no seio familiar, e quando, na escola, são confrontados com um, a sua tendência é ignorar, a revolta e o questionar a autoridade da pior forma possível, vêm logo a seguir. E começam os “problemas”, com tendência a multiplicarem-se… A Escola é um local onde imperam regras de convivências elementares, a cumprir e respeitar por todos, as atenções centram-se em muitos, cada vez mais, e em nenhum, há tarefas para realizar, mesmo que não apeteça e/ou não se goste, não podendo estar sujeita aos caprichos, desejos e vontades de uma só criança, em detrimentos do grupo! Conversando com os pais sobre as atitudes do seu rebento, constata-se que há 2 tipos de pais: os que responsabilizam o filho, pedindo, envergonhados, desculpa em seu nome, tomando, de imediato, medidas; e depois há os pais cuja reação imediata é a desculpabilização (a sua e do respetivo menino, por vezes fica a dúvida qual é a mais premente) e infelizmente, estes são os que mais frequentemente são chamados à Escola. Os argumentos vão variando mas, em resumo, as ideias chave do seu discurso são “se em casa, corre tudo tão bem, a culpa só pode ser da Escola, dos professores ou dos colegas”, “Mas foi só ele? E os outros colegas?”, “Eu não costumo ralhar com ele pois ele só tem essas atitudes na escola. Por isso se foi aqui que as aprendeu, a escola é que tem de resolver. O problema é da escola”, “Estou tão pouco tempo com ele que não tenho coragem nem tempo, nos poucos momentos que estamos juntos, de me chatear e ralhar como ele”, “O meu filho não mente. E não foi isso que ele me contou por isso não deve estar a ver bem a questão!”, “Ele é muito imaturo, foi só uma brincadeira. Não percebo a necessidade desta tempestade num copo de água!”, “Não está habituado a que falem rispidamente com ele e por isso é que reagiu assim, se lhe tivessem falado calmamente, como nós fazemos, ele tinha obedecido. O professor não pode gritar com ele! Ninguém grita nem toca no meu filho!”, minutos infindáveis a justificar o injustificável, onde a culpa, esse ser exógeno, que se diz morrer solteira, é sempre depositada em outrem, obviamente. Este tipo de pais assume, primeiramente, o papel de grande amigo e defensor do seu petiz, descurando as suas funções principais: EDUCAR e responsabilizar. Provavelmente, estes pais chegarão, mais cedo ou mais tarde à conclusão que vários outros já chegaram “Já não consigo fazer nada dele, não sei onde falhei! Se os professores conseguirem, agradecemos imenso!”. A uns e a outros, valeria a pena retroceder um pouco no tempo e recordar-lhes: todos os espetáculos que deixaram o seu petiz deambular/correr pela sala, fazendo barulho, quando todas as outras crianças permaneciam sentadas, em silêncio, atentas à atividade e não lhe disseram NÃO “porque afinal o espetáculo não estava a ser cativante”, ou de todas as vezes que não o impediram de arrastar, ruidosamente, as cadeiras pela casa, não lhe dizendo NÃO “porque os vizinhos já estão habituados, não se importam” ou quando escolheram não intervir ao vê-lo morder ou cuspir um amigo, não lhe dizendo NÃO “porque são coisas da idade e logo passam. O melhor é não dar importância e ignorar.” ou quando, no supermercado, face à sua birra espalhafatosa e aos olhares acusatórios dos transeuntes, não lhe disseram NÃO, e lhe compraram, uma e outra vez, mais um brinquedo, para juntar à sua enorme coleção, ou quando foi mal educado ou retirou um brinquedo sem pedir autorização e não lhe disseram NÃO, obrigando-o a pedir desculpa, ou quando não lhe corrigiram a dicção de determinadas palavras “porque até tem graça o seu falar à bebé”… Quando desculpabilizar, e não responsabilizar e retificar, foi prática corrente, durante anos, inverter o sentido, torna-se deveras complicado; e a Escola pouco, ou nada, pode fazer nestes casos, quando a iniciativa, não provém de quem tem esse dever, responsabilidade e poder: os PAIS.

Estabelecer limites e os ditos comportamentos ajustados é algo que se constrói desde tenra idade, num percurso atribulado cheio de pequenos avanços, alguns retrocessos e muitas dúvidas, num processo dinâmico e progressivo. Há “batalhas” essenciais que só poderão ser conquistadas, com muitas lágrimas e contrariedades, desferindo golpes impiedosos de “NÃO, NÃO e NÃO”, sem hesitações, justificações ou negociações, ignorando os olhares de soslaio e reprovadores de muitos, que criticam velada, ou abertamente, uma postura, que parece estar pouco em voga: obediência, respeito e responsabilidade, sem desculpas, subterfúgios ou cedências. Há “batalhas” que se podem ignorar, a bem da sanidade mental de todos, pois desaparecem, não deixando sequelas, o tempo e a maturidade encarregam-se delas. As “batalhas” essenciais nas quais não se deve baixar os braços nem dar tréguas, por muito que às vezes apeteça, prendem-se com os princípios e os valores que se consideram fundamentais e se pretendem transmitir para que sirvam de linha orientadora na sua vida futura. Não é fácil e não há “garantias” mas estabelecendo limites, incutindo regras, desde sempre, aumenta significativamente a probabilidade de, no futuro, determinadas situações ou questões não se colocarem.

Educar é ser firme e presente, muitas vezes, não impedindo a “queda”, mas alertando para a sua possibilidade e consequência; perante a “queda”, não é ergue-los em braços mas sim amparar/dar a mão para que se lembrem o que lhes custou levantar. Educar é também ter muitas dúvidas, e ganhar muitos cabelos brancos, ao longo do percurso; é escolher o caminho onde se vislumbra a (nossa) luz ao fundo do túnel, ignorando, muitas vezes, o caminho mais fácil ou o que os outros seguem/apontam ou o ladeado de holofotes, é saber dizer NÃO, o número de vezes necessárias, na altura e idade certa, sem peso na consciência ou medo de perder o amor do petiz. EDUCAR é um ato de coragem, abnegação e determinação mas, essencialmente, de amor.

FONTE: www.comregras.com


                                          

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