sexta-feira, 22 de abril de 2016

AUTISMO E ALFABETIZAÇÃO: UM DESAFIO POSSÍVEL E DEMOCRÁTICO

Por que alfabetizar nossas crianças é tão importante? Afinal, o que é alfabetização? Segundo Emília Ferrero, a psicolinguísta argentina mais respeitada nesses últimos trinta anos no Brasil, onde a história da alfabetização pode ser dividida entre antes e depois dela, alfabetizar é então proporcionar à criança meios para que de forma ativa, ela possa interagir com o código escrito e se apropriar dele, entendendo principalmente a sua função social. Esse pensamento, apesar não ser um método, permeia grande parte dos métodos e processos de alfabetização em nossas escolas.
Mas como fica então o processo de alfabetização para as crianças atípicas, já que o processo de alfabetizar pressupõe uma participação ativa da criança e da compreensão social da escrita (saber e descobrir para que ela serve)? É importante lembrar que esse desafio é democrático, ou seja, ele se coloca para todas as crianças, em todas as culturas e camadas sociais. Ser alfabetizado é ou deve ser um processo que faz parte do desenvolvimento humano. Partindo desse pressuposto, o acesso ao mundo das letras é um direito de toda criança segundo a Constituição Federal e inúmeras leis, em especial, a Lei nº 11.274/2006.
Os processos de alfabetização são, em vários momentos, chamados de métodos de forma equivocada. Os processos de alfabetização são os meios, as técnicas pelas quais ensinamos as crianças a compreenderem a lógica da formação das palavras. Esses processos podem ser: o fônico (ensinar as letras enfatizando seu som) ou o iconográfico (ensinar relacionando a letra a uma figura dentre outros).
O caminho de conhecer as letras e sua função social fica mais intrigante quando usamos processos de alfabetização que foram pensados e adotados pela escola e que quando os aplicamos em uma sala de aula, eles simplesmente não funcionam como esperávamos. Essa situação, como alfabetizadora, nesses trinta e um anos, eu vivi inúmeras vezes.  
O que fazer então?A saída sempre foi:

1º) Identificar como essa criança aprende, ou seja, qual é o seu estilo de aprendizagem.
2º) Quais são os conteúdos prévios que meu aluno já sabe?
3º) Quais métodos e processos de alfabetização podemos usar para que a criança aprenda a decodificar o código linguístico.
4º) Nos perguntar: o que preciso mudar em minha didática, no meu jeito que ensinar, para que meu aluno aprenda com significado?
5º) Quais processos de alfabetização posso associar para que meu aluno aprenda?
Todos esses caminhos para a assimilação dos conteúdos na alfabetização são comuns entre crianças típicas e atípicas. No caso específico da minha prática como psicopedagoga de crianças autistas, tenho experimentado nesses onze anos que os caminhos seguidos acima citados são os mesmos. No entanto, a diferença está na bagagem teórica e prática do profissional, num repertório vasto de técnicas para a alfabetização, no envolvimento da família como suporte e partícipe desse processo e no respeito às condições específicas de cada criança. Esse respeito está, acima de tudo, relacionado ao potencial de cada uma, bem como às estratégias diferenciadas para que a aprendizagem aconteça.
Quando afirmei que esse caminho é intrigante, não foi um eufemismo. Esse caminho tem me desafiado a cada sessão a mudar, fazer diferente, incrementar, observar e ouvir o não dito e criar novos caminhos. Nesse caminho, eu e as famílias temos festejado cada conquista como um atleta que ganha uma medalha de ouro em uma Olimpíada, pois o sentimento é exatamente esse.
Nossas crianças atípicas são capazes de aprender, basta descobrirmos o caminho ou os caminhos.
Dedico estas palavras a todas as crianças típicas e atípicas que me proporcionaram a imensa alegria e prazer de embarcar nesta viagem que, em vários momentos, quem indica o caminho são elas mesmas.
FONTE: Denize Ribeiro Porta Cardoso é Pedagoga e Psicopedagoga clínica e institucional

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