quarta-feira, 9 de março de 2016

A comunicação Alternativa e o Uso do Pecs

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O desenvolvimento da linguagem é um processo do qual os seres humanos compartilham, por meio de comunicação, suas experiências, idéias, sentimentos e necessidades. Essa linguagem pode ser verbal – oral e escrita – e não verbal.
Esses sistemas alternativos melhoram o desenvolvimento da comunicação, a aprendizagem social, podendo alcançar a independência de atividades da vida diária, diminuindo os comportamentos inadequados, proporcionando, assim, melhor qualidade de vida para as crianças e suas famílias.
Os prejuízos na comunicação nos pacientes com TEA e na linguagem podem ser manifestados como o mutismo, atraso na aquisição, ecolalia, inversão pronominal, simplificação sintática, rigidez semântica, preferências por funções imperativas, literalidade de interpretação e outras.

Essa inabilidade de se fazer compreender e ate de compreender os outros afeta o comportamento, podendo se manifestar de maneiras inapropriadas, como, por exemplo, crianças que se autoagridem, batem a cabeça, gritam, mordem, entre outros comportamentos incompreendidos e inaceitáveis socialmente.
Para inibir tais comportamentos, deve-se estabelecer uma maneira de manter a comunicação.

SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA/ALTERNATIVA (CAA)
A comunicação aumentativa significa uma comunicação complementar ou de apoio. São formas alternativas de comunicação tendo duplo objetivo – promover e apoiar a fala e garantir uma forma de comunicação alternativa se a pessoa não aprende a falar.
A comunicação alternativa é qualquer forma de comunicação diferente da fala e usada por um individuo em contextos de comunicação frente a frente ...
Compreende-se como sendo qualquer recurso que possa ser utilizado pelas pessoas com dificuldade em se expressar por meio da oralidade ou que essa fala seja significativamente comprometida e inelegível, em qualquer época do ciclo de sua vida.
As crianças com TEA apresentam dificuldade e/ou não desenvolvem a compreensão e o uso da linguagem de maneira típica, sugerindo-se o emprego precocemente dos sistemas alternativos de comunicação, para suplementar ou substituir a linguagem falada, proporcionando o desenvolvimento da comunicação.
Toda intervenção esta baseada no pressuposto de ser possível influenciar o desenvolvimento de alguma habilidade, por meio de mudanças no ambiente.

Faz-se necessário, para o estabelecimento da intervenção com a comunicação alternativa, o acesso a meios funcionais de construção e a partilha dessas ideias. A falta de compreensão dos envolvidos poderá comprometer todo o processo de desenvolvimento dessas estratégias, pois as crianças que aprendem a usar sistemas de comunicação alternativa tem um input restrito, não somente no que diz respeito ao léxico e à estrutura gramatical.

Suas vivencias comunicativas também são limitadas, ate quando fora das situações educacionais e de espaços estruturados.
Para o sucesso dessa intervenção se faz necessário a interação de todos os envolvidos.Muitos são os benefícios da CAA:

- desenvolver a compreensão da comunicação;
- desenvolver o encorajamento para a fala;
- reduzir a frustração e os comportamentos inapropriados;
- desenvolver o uso da estrutura da linguagem;
- pode ser aplicado por todos que rodeiam a pessoa.
Os sistemas alternativos de comunicação conhecidos e utilizados no Brasil são:
- Código Morse;
- Signos gestuais para não ouvintes;
- Sistema de comunicação PIC – pictogramas e ideogramas para a comunicação;
- Sistema Bliss;
- Sistema PECS: The Picture Exchange Communication System;
- Comunicadores de voz gravada e sintetizada;
- Prancha dinâmicas em computadores portáteis.

SISTEMA PECS: The Picture Exchange Communication System;
É um sistema de comunicação alternativa que consiste no intercambio de figures como forma interativa de emitir uma comunicação e alguém.

As crianças com TEA não são receptivas a reforçador social, não podemos esperar que sua linguagem se desenvolva normalmente.
Proporcionar e oportunizar para que as crianças desenvolvam habilidades comunicativas funcionais, ambientes físicos que contenham materiais interessantes e atividades úteis, além disso, deve-se oportunizar estratégias específicas para ensinar competências de comunicação especificas.

Crianças autistas sem fala articulada, após o uso do PECS, passaram a comunicar seus desejos com a pessoa comunicativa, entregando uma figura e obtendo o que desejam. Vários resultados com a utilização do PECS foram apresentados, em que as crianças com TEA passaram a usar de 30 a 100 figuras, mesmo as que usavam a fala não funcional. Com o passar do tempo muitas crianças no decorrer de um ano, conseguiram adquirir falar articulada e de forma independente; algumas adquiriram fala com o uso da figura ou com sistema de palavras escritas. Um aspecto importante do PECS é que as crianças podem expressar suas necessidades aos adultos, e que estes podem satisfazê-las rapidamente.

Esse programa procura desenvolver a iniciativa da fala, a espontaneidade, a autonomia da comunicação funcional e a compreensão. As crianças aprendem a se comunicar e lhes são ensinadas as regras de comunicação, depois a fala é adquirida por meio de oportunidades, dando condições para o aparecimento e o desenvolvimento das vocalizações. O PECS torna-se um sistema de comunicação alternativo para as pessoas que não conseguem desenvolver a fala e pode ser usado também em aparelhos de alta tecnologia.

Alguns pais se preocupam que os sinais e fotos possam vir a diminuir a motivação para o desenvolvimento da fala. Até hoje, não há evidencias de que isso ocorra, ao contrario, ao serem usadas formas alternativas de comunicação, as crianças podem ser encorajadas a usar a fala.

O PECS ensina como uma pessoa se aproxima de outra para iniciar a comunicação, porque muitas podem falar usando uma gramática e um vocabulário rico, mas não conseguem ou apresentam muita dificuldade quando alguém inicia a conversa. Esse sistema fornece uma ferramenta para o aprendizado das habilidades sociais e de iniciação da comunicação. Sendo utilizado para aumentar o vocabulário, já que algumas crianças autistas usam palavras isoladas não formando frases.

Cada fase do PECS – Adaptado é composta de objetivos específicos, iniciando com uma lista de itens preferenciais da criança fornecidos e selecionados pelos familiares e professores antes de iniciar o treinamento das fases.

O treino do PECS inicia-se em ensinar a criança a usar símbolos para efetuar o pedido de forma que ele realize a troca de figura pelo objetivo desejado e perceba os benefícios que essa nova forma de comunicação proporciona na interação com o outro.

Fases do PECS – Adaptado.

Fase 1: Como se comunicar
Nesta fase é necessário um segundo adulto para ensinar o ato motor do gesto de comunicação que a criança deve aprender. Aqui a criança aprende a trocar uma figura por itens ou atividades que realmente quer. Ao fazer isso, ela começa um ato comunicativo para obter algo concreto.
Resposta esperada: ao ver um objeto muito desejado na Mao do professor ou pais, a criança deverá ser ensinada a procurar a figura correspondente ao objeto, estender a Mao e entregá-la ao adulto.

Fase 2: Aumento da espontaneidade
A criança é incentivada a procurar na pasta, quadro ou caderno de comunicação à figura correspondente ao que deseja, assim, retira a imagem e a entrega ao adulto. Só depois receberá o que deseja. Nesta fase, a criança deverá ser capaz de procurar figuras.
Resposta esperada: a criança deverá procurar a figura correspondente ao objeto, retirar a figura e chamar a atenção e entregar ao adulto de forma independente.

Fase 3: Discriminação de figuras
Aqui deverá interagir com diferentes pessoas para pedir o que deseja. O próximo passo é ensiná-la a discriminar símbolos ou imagens que estão nos cartões e prancha.
Resposta esperada: a criança deve encontrar a figura do item desejado dentre varias figuras dispostas na tabua ou no álbum de comunicação, e dirigir-se espontaneamente ao adulto para entregar e obter o item desejado.

Fase 4: Estruturação de frases
A criança é ensinada a construir e a usar uma frase para comunicação.
Resposta esperada: a criança devera solicitar os itens desejados, estando ou não no ambiente, informando seus sentimentos por meio das figuras-frases dispostas em destaque no álbum de comunicação, possibilitando a formação de uma frase, como “eu quero”, “eu estou”.
Após dominar a fase IV, o protocolo divide-se em dois caminhos:
1. O aluno continua pelas fases V e VI, que o levam a comentar.
2. O outro caminho ensina o aluno a usar o vocabulário descritivo r vocabulário relacionado a outras coisas que não sejam itens preferidos.

Fase 5: Responder a perguntas diretas.
Nesta fase, a função comunicativa continua sendo explorada, mas agora como resposta à questão: “o que você quer?”. “O que você ouve?”
Resposta esperada: a criança devera ser capaz de ampliar seu vocabulário, utilizando uma linguagem funcional em e diferentes contextos sociais.

Fase 6: Comentar
Nesta fase, o aluno aprende a comentar tanto de forma espontânea quanto responsiva. O que quer? O que esta ouvindo? Pede e comenta espontaneamente.
Resposta esperada: a criança devera ser capaz de responder e pedir espontaneamente.
O sistema PECS é fácil de ser aprendido. Porém deve ser personalizado, ou seja, cada criança tem o seu material, que é construído considerando suas possibilidades cognitivas, visuais e motoras, podendo estar soltos ou agrupados em álbuns ou cadernos.

As evidencias cientificas mostram inabilidades das referidas crianças, tanto para iniciar, sustentar, quanto para responder às demandas sociais e comunicativas do ambiente. O desempenho comunicativo dessas crianças aponta para o desvio atípico, a intervenção terapêutica aponta para o uso de estratégias inicialmente lúdica e, posteriormente, incentivando-a a compartilhar atenção e situações.

Os sistemas de comunicação alternativa devem proporcionar a comunicação na relação humana, utilizando-se de recursos, sejam eles figuras, pranchas, vocalizadores, entre outros jogos: porém, não deve ser um recurso que substitua a relação entre as pessoas.

Marcia R. M. S. Valiati e Michela R. Rossini Gusso

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