sexta-feira, 18 de março de 2016

Fim da letra cursiva?

A letra cursiva...
O assunto sempre gera polêmica e cria-se uma celeuma em torno da discussão.
Quando eu disse que a letra cursiva não deveria ser introduzida na educação infantil, quase fui linchada. A resistência dos educadores foi enorme, alguns chegaram a dizer que a letra cursiva é imprescindível para trabalhar a coordenação motora das crianças. E ainda, que para se ter uma letra bonita precisam sim, treinar bem o traçado.
Será? Conheço pessoas que tem excelente controle motor e a letra deles é horrível! E será que coordenação motora é pra ser trabalhada utilizando-se o treino de letra cursiva? Penso que jogar bola, correr, rodar pneus, arcos, rolar na terra, subir em árvore é muito mais eficaz- e prazeroso!

O motivo de eu voltar ao assunto é que li uma reportagem que me chamou muito a atenção. Na semana passada, os finlandeses, que são líderes no PISA e cujo país tem a educação mais eficaz do  mundo, ficaram sabendo pelos jornais e noticiários que o Ministério da Educação pensa em terminar com o ensino da letra cursiva nas escolas, ensinando apenas a letra de forma. Uma notícia que já era de se esperar num país onde a tecnologia é altamente utilizada e todas as crianças antes de se alfabetizarem já sabem mexer em computadores, tablets e telefones.

Mesmo assim, nós com mais de trinta anos (eu um pouquinho mais que isso!), não deixamos de ficar surpresos pela notícia que mostra que o futuro tecnológico está muito mais perto do que imaginamos. Mesmo defendendo que a letra retrata a personalidade e que é inútil ficar fazendo treinos, quando fiquei sabendo que o fim do ensino da letra cursiva, está ameaçada de extinção por decreto, o choque foi inevitável.

Por enquanto, isto é uma sugestão de projeto e que se aceito entrará em vigor em meados de 2016.

As crianças aprenderiam a reconhecer as letras escritas de forma cursiva mas estariam desobrigadas da tarefa enfadonha de tentar reproduzir as suas curvas e especificidades. Seriam capazes de ler mas não obrigadas a reproduzir.

Para este grupo, a escola não pode se isolar em si mesma em técnicas ultrapassadas ignorando o que faz parte da vida dos alunos e como eles se expressam. Hoje em dia se digita muito mais do que se escreve. Inclusive pessoas adultas em suas rotinas de trabalho utilizam cada vez menos o lápis e o papel, uma vez que podemos anotar nossos compromissos até nas agendas dos nossos telefones.

Particularmente, não acho imprescindível o ensino da letra cursiva. Diariamente me deparo com alunos cujas letras cursivas são ilegíveis. Eu mesmo lhes sugiro escrever com letras de forma. O que importa, penso eu, é a legibilidade do texto. Principalmente em processos avaliativos como ENEM e concursos.

O problema que pode surgir da prática do não ensino da letra cursiva, no meu entender, não está relacionado à aprendizagem de certas habilidades motoras específicas, que se desenvolvem com a prática do traçado desse tipo de letra, mas sim está relacionado com o fato de que, muitas vezes, quem se habitua a escrever apenas com letras de forma, acaba não sendo estimulado também a aprender a distinguir e respeitar as convenções da escrita.

Uma dessas convenções é particularmente importante: a distinção entre letras maiúsculas e minúsculas, que é significativa na maioria das línguas, inclusive na língua portuguesa. Já vi muitos alunos que escrevem apenas com letras maiúsculas ou que misturam letras maiúsculas com minúsculas, sem ter em conta as convenções de uso adequado de umas e de outras.
E esse fato, sim, afeta a legibilidade e até mesmo a compreensão dos textos, especialmente os gêneros mais complexos.

Por enquanto o projeto está em discussão, vamos ver no que vai dar. Mas uma coisa é certa: Mudanças ainda virão e a pergunta é: Nós professores, estamos prontos para estas mudanças?
E para finalizar, Compartilho com vocês um caso verídico contado por uma amiga, pra gente refletir:

A mãe chega em casa exausta e diz ao filho que não vai atender ninguém, porque está muito cansada e teve um dia muito difícil. O telefone toca e o filho de 5 anos atende. É alguém querendo falar com a mãe e ele logo diz que ela não pode atender porque teve um dia difícil e está muito cansada. A pessoa pergunta:
- Mas o que aconteceu com ela?
E o menino responde:
- Não sei não, mas acho que ela está aprendendo letra cursiva!

Priscila Boy é Consultora Educacional

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