quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

7 FORMAS DE ALIVIAR A ANSIEDADE NAS CRIANÇAS

A ansiedade é um transtorno que se destaca na atualidade como consequência do mundo agitado, cheio de tensões. Este transtorno vem afetando a população de um modo geral, independente da idade. Avaliando o cenário global de transtornos psicológicos, dados internacionais mostram que as taxas de prevalência de transtornos de ansiedade na infância e adolescência variam entre 6% a 20%. Segundo um estudo de Fleitlich-Bilyk e Goodman (conforme citado por Vianna, Campos & Fernandez, 2009) estima-se no Brasil que os índices de prevalência de ansiedade em crianças e adolescentes é de 4,6% em crianças.

A estimativa de que crianças e adolescentes em algum momento de sua vida preencham os critérios de diagnósticos para pelo menos um dos Transtorno de Ansiedade é de aproximadamente 10%. Os quadros mais frequentes de ansiedade são: O Transtorno de Ansiedade Generalizada e Transtorno de Ansiedade à Separação.

Em crianças, principalmente nas menores verifica-se que diferentemente dos adultos, estas não conseguem reconhecer os seus medos como exagerados, ou irracionais. O seu desenvolvimento emocional implica sobre as causas e a maneira como os medos e preocupações tanto normais como patológicas irão se manifestar.

Exemplo: Numa manhã como tantas outras o seu filho vira-se para você e diz: “Eu não quero ir para a escola. O meu estômago dói. Por favor, não me faça ir.” Você começa a ficar frustrado e pensa: “Aqui vamos nós de novo.” O que deveria ser uma simples rotina da manhã explode num desafio assustador. Você olha para o seu filho e vê o terror genuíno. Você quer consolá-lo. Você quer aliviar a preocupação excessiva que se tornou parte integrante da sua vida quotidiana. Em primeiro lugar, tenta a lógica. “Vamos, eu coloco a música que tu gostas.” Ele não se moveu. Você tenta tranquilizá-lo.”Eu prometo que vais ficar bem. Olhe para mim … confias em mim, certo?” A criança acena com a cabeça. Poucos segundos depois, ele sussurra: “Por favor, não me faça ir.” Você fica irritado: “Vais entrar no carro agora, ou haverá consequências graves. Ficas sem iPad durante uma semana!” Ele olha para você como se o obrigasse a ir para o inferno. Ele entra no carro, derrotado. Você sente-se terrível.

Se isto soa familiar, sei que você não está sozinho. Dói ver o seu filho a ser vítima da preocupação e angustia sobre situações que, francamente, não parecem assustadoras. Mas, na verdade, para a mente da criança, essas situações são verdadeiramente ameaçadoras. Essas ameaças percebidas podem criar uma resposta real no sistema nervoso. Chamamos a essa resposta – ansiedade.

Muitas crianças faltam à escola, atividades sociais, e perdem uma boa noite de descanso apenas porque têm pensamentos de preocupação na sua cabeça. Muitos pais sofrem de frustração e um sentimento de impotência quando testemunham o seu filho neste estado a maior parte dos dias.

Não existe uma solução pronta para a ansiedade que sirva para todas as crianças, há sim uma infinidade de técnicas eficazes baseadas em pesquisas que podem ajudar a controlá-la, muitas das quais são simples de aprender. É possível os pais aprenderem. É possível ensinar às crianças estas habilidades de enfrentamento.  É possível ensinar as crianças a encontrarem um significado, propósito e felicidade nas suas vidas. Para ajudar neste caminho, apresento 7 formas de aliviar a ansiedade que os pais de crianças ansiosas podem aplicar de imediato:

1 – PARE DE TRANQUILIZAR O SEU FILHO
Você sabe que não há motivos para a criança preocupar-se, então diz, “Confia em mim. Não há nada para te preocupares.” Todos nós desejamos que fosse tão simples assim. Porque é que a sua tentativa de tranquilidade cai em saco roto? Na verdade, não é porque a criança não está ouvindo. A criança ansiosa quer desesperadamente ouvi-lo, mas o cérebro não deixa isso acontecer. Durante os períodos de ansiedade, há uma rápida descarga de produtos químicos e processos mentais que são ativados com um objetivo prioritário para o corpo –  a sobrevivência. O que contribui para este fenómeno é que o córtex pré-frontal (a parte mais lógica do cérebro) é colocada em espera, enquanto o cérebro emocional mais automatizado assume as funções de resposta perante a situação stressante. Por outras palavras, é realmente difícil para o seu filho pensar com clareza, usar a lógica ou mesmo lembrar-se de como executar as tarefas básicas.

O que você deve fazer em vez de tentar racionalizar e querer que a preocupação do seu filho desapareça? Aplique os quatro passos seguintes:

Pare – Pare por breves momentos e faça algumas respirações profundas com a criança. A respiração profunda pode ajudar a inverter a resposta do sistema nervoso.
Enfatize – A ansiedade é assustadora. A criança quer saber que você percebe isso.
Avalie – Assim que a criança fique mais calma, é hora de descobrir possíveis soluções.
Desapegue-se – Deixe de lado a sua culpa; você é um pai ou educador incrível para a criança, fornecendo as ferramentas para gerir a sua preocupação.

2 – DESTAQUE O LADO POSITIVO DA PREOCUPAÇÃO
A ansiedade já é suficientemente perturbadora para a criança, por isso, não podemos passar a mensagem que estar preocupada significa que algo de errado existe com ela. Muitas crianças ainda desenvolvem mais ansiedade por estarem ansiosas ou preocupadas. Ensine à criança que a preocupação, de fato, tem um propósito.

Quando os nossos ancestrais iam caçar e colher alimentos havia perigo no ambiente, e estar preocupado ajudou a evitar ataques dos animais ferozes, como por exemplo o tigres com dentes de sabre. Nos tempos modernos, nós não temos uma necessidade de fugir dos predadores, mas continuamos com esse mecanismo de resposta ansiosa que nos protege – a preocupação.

A preocupação é um mecanismo de proteção. A preocupação soa um alarme em nosso sistema e ajuda-nos a sobreviver perante a perceção de perigo. Ensine à criança que a preocupação é perfeitamente normal, e que pode ajudar a proteger-nos, e que todas as pessoas de vez em quando experimentam isso. Às vezes o nosso sistema corporal dispara alarmes falsos, mas este tipo de preocupação (ansiedade) pode ser colocado à prova com algumas técnicas simples.

3 – ENQUADRE A ANSIEDADE DA CRIANÇA COM OS ACONTECIMENTOS DE VIDA
Como você provavelmente sabe, ignorar a ansiedade não ajuda. Mas enquadrar a ansiedade com os acontecimentos de vida e falar com a criança sobre a relação que existe entre o incómodo sentido e a sua perceção dos acontecimentos, é um fator preponderante para restabelecer o equilíbrio emocional.

Criar um personagem para explicar esta relação pode tornar mais fácil o entendimento da criança. Por exemplo, você pode criar um personagem que personifica a ansiedade. Vamos chamar-lhe Óscar. O Óscar vive no velho cérebro que é responsável por proteger-nos quando estamos em perigo. Claro que às vezes o Óscar fica um pouco fora de controle e quando isso acontece, temos de falar calmamente para ele. Você pode usar esta mesma ideia com um boneco de pelúcia ou mesmo teatralizar o personagem em casa.

Personificando a preocupação ou criando um personagem tem vários benefícios. Isso pode ajudar a desmistificar as sensações incómodas sentidas no corpo das criança quando ela fica ansiosa ou preocupada em excesso. Este procedimento pode ajudar a que a criança reative a parte do processamentos lógico da informação, e funcionar como uma ferramenta que pode usar por conta própria a qualquer momento.

4 – ENSINE A CRIANÇA A SER UM DETETIVE DE PENSAMENTOS
A preocupação é a maneira que o cérebro desenvolveu para proteger-nos do perigo. Para se certificar de que estamos realmente prestando atenção, a mente muitas vezes exagera o objeto da preocupação (por exemplo, confundindo um pedaço de pau com uma cobra). Você pode ter aprendido que ensinar as crianças a pensar mais positivamente poderia acalmar as suas preocupações. Isto é verdade, mas isoladamente não chega. O melhor remédio para o pensamento distorcido não é o pensamento positivo, mas sim o pensamento preciso.

Ajude a criança a aplicar os 3 passos seguintes:
Pegar os pensamentos: Imagine que cada pensamento que você tem flutua acima da sua cabeça numa bolha (como o que você vê em quadrinhos). Agora, pegue um dos pensamentos de preocupação, como: “Ninguém na escola gosta de mim.”
Recolher evidências: Em seguida, colete evidências para apoiar ou negar este pensamento. Ensine a criança a não fazer julgamentos sobre as preocupações com base apenas em sentimentos. Os sentimentos não são fatos. (Evidências de suporte da preocupação: “Eu tive dificuldade em encontrar alguém que quisesse sentar-se comigo no almoço.” Negar a evidência da preocupação: “O António e eu fazemos os trabalhos de casa juntos, ele é meu amigo.
Desafiar os pensamentos: A melhor maneira (e mais divertida) de fazer isso é ensinar a criança a ter um debate consigo mesma.

 5 – PERMITA QUE A CRIANÇA SE PREOCUPE
Como expliquei anteriormente, dizer à criança para não se preocupar não vai impedi-la de fazê-lo. Se as crianças conseguissem simplesmente deixar de se sentirem mal, elas fariam-no. O que melhor funciona é passar a mensagem que não existem nenhum mal em preocuparmo-nos, e que em doses adequadas, pode ser útil.

Crie um ritual diário reservado exclusivamente para abordar os temas acerca dos quais a criança se preocupa ou conduzem à ansiedade. Pode ser um período de 10 a 15 minutos, durante o qual incentiva a criança a sentir-se livre para falar ou escrever sobre as suas preocupações. Você pode tornar a atividade divertida. Por exemplo, decorar uma caixa da preocupação. Durante o tempo de preocupação, não há regras sobre o que constitui uma preocupação válida, vale tudo. Quando o tempo chegar ao fim, a caixa deve ser fechada e dizer adeus às preocupações para esse dia.

6 – AJUDE A CRIANÇA A MUDAR O DISCURSO DE: “E SE…” PARA, “O QUE POSSO FAZER PARA…”
Vou revelar-lhe o seguinte, nós seres humanos somos capazes de viajar no tempo. Não fisicamente, mas mentalmente. De fato, mentalmente gastamos muito tempo com a cabeça no futuro. Para uma criança que sofre de ansiedade, este tipo de viagem mental no tempo pode exacerbar a preocupação, levando-a a fazer perguntas do género: “E se eu não conseguir abrir o meu armário e perder a aula?” ou “E se a Inês não falar comigo hoje?” ou “E se eu não passar no teste?“A pesquisa mostra que voltar para o momento presente pode ajudar a aliviar essa tendência.

Um método eficaz de fazer isso é praticar exercícios de conscientização. A Atenção Plena (Mindfulness) traz uma criança do discurso “e se…” para, “o que posso fazer para”. Para praticar isso, ajude o seu filho a concentrar-se na respiração por alguns minutos.

Deixo um pequeno exemplo:
Medida de ação: Quando a criança começa a sentir-se ansiosa, explique-lhe que deverá usar essa sensação como uma sugestão para fazer pelo menos uma respiração abdominal profunda. Essa respiração vai iniciar a resposta de relaxamento.

Para praticar, ajude a criança a fazer o seguinte exercício:
§  Foque a sua atenção no modo como respira. Se conhecer o modo como respira habitualmente, poderá usar a respiração para se relaxar em momentos que se sinta ansioso.
§  Concentre-se nas partes do seu corpo (tórax) que usa para respirar. Sinta como os diferentes músculos se movem durante a inspiração e a expiração, sinta isso.
§  Esteja tento a todas as sensações que sente quando respira. Memorize essas sensações, para poder reproduzi-las em situação em que se sente ansioso.
§  Agora, coloque uma mão em cima do peito e outra sobre o seu estômago.
§  Note os movimentos de expansão e de contração do peito, à medida que inspira e expira.
§  Note os movimentos de expansão e de contração do estômago, à medida que inspira e expira. Foque-se nessas sensações durante 1 minuto.
§  Em seguida sempre que verificar que está a respirar pelo tórax, mude para os músculos do estômago.
§  Em seguida foque-se na expiração, liberte o ar por entre os lábios, para controlar a sua saída…verifique se são os músculos do abdómen e do diafragma que se contraem.
§  Repita o processo demorando o dobro do tempo para expirar do que a inspirar o ar.

O exercício de focar-se na respiração retira a criança da construção de um cenário catastrófico, dando-lhe a possibilidade de posteriormente focar-se no que pode fazer para solucionar ou minimizar o problema que o perturba. Passando de um discurso de: “E se a Inês não falar comigo hoje?” para “O que posso fazer para me certificar que a Inês fala comigo hoje?

7. NÃO EVITE TUDO QUE CAUSA ANSIEDADE À CRIANÇA
A criança quer evitar eventos sociais, os cães, a escola, aviões ou basicamente qualquer situação que causa ansiedade? Como pai, você quer ajudá-la a não sofrer com a ansiedade? Claro! Isso é natural. A resposta de fuga ao que nos provoca incómodo é natural. Infelizmente, a longo prazo, evitar a ansiedade aumenta-a. Então, qual é a alternativa? Tente a exposição progressiva e gradual às coisas temidas.

Vamos dizer que o seu filho tem medo de sentar-se nos baloiços no parque. Em vez de evitar essa atividade, deve criar mini-metas para chegar mais perto do objetivo maior. Por exemplo, vá até a limite do parque, em seguida, entre no parque, depois aproxime-se da zona dos baloiços, em seguida sente simplesmente a criança no baloiço, comece com pequenas oscilações e finalmente deixe baloiçar-se sozinha. Toda esta progressão poderá levar alguns dias, fazendo um ou dois avanços por dia. Você pode usar cada etapa até que a exposição se torna muito fácil e deixe de causar desconforto à criança, esse é o momento em que você sabe que é hora de passar para o próximo degrau na escada da exposição.

VOCÊ É O SUPORTE DA CRIANÇA
Dar suporte a uma criança que sofre de ansiedade pode ser doloroso, frustrante e confuso. Não há um pai que não se pergunte em um momento ou outro, se eles são a causa da ansiedade de seus filhos. É importante que você saiba que a pesquisa mostra que a ansiedade é muitas vezes o resultado de múltiplos fatores (ou seja, genes, fisiologia do cérebro, temperamento, fatores ambientais, eventos traumáticos do passado, etc.). Por favor, mantenha em mente, que provavelmente você pode não ser a causa da ansiedade da criança, mas você pode ajudá-la a superá-la.

Se verifica que apesar dos seus esforços a criança continua a sofrer de ansiedade, e esta continua a aumentar, procure ajuda profissional.


FONTE: escolapsicologia - Miguel Lucas

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