O mineiro Aimar de Souza Gomes,
de 46 anos, é um apaixonado por livros, principalmente por romances e
biografias musicais e políticas. Nascido em Conselheiro Lafaiete (MG), aos sete
anos de idade, mudou-se para Belo Horizonte, onde aprendeu a ler em braile.
Aimar, que é cego de nascença, conta que seus pais eram primos em 1º grau e
que, talvez por isso, três dos dez filhos do casal tenham nascido sem enxergar.
Hoje (8) é comemorado o Dia
Nacional do Braile, o sistema de leitura em alto-relevo para deficientes
visuais, inventado pelo francês Louis Braille, em 1827. De acordo com o Censo
de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), havia no
Brasil mais de 32 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual,
sendo 6,5 milhões com deficiências severas.
A data, no Brasil, remete ao
aniversário de nascimento de José Álvares de Azevedo – o Patrono da Educação
dos Cegos no Brasil. Azevedo foi um missionário que, após estudar braile na
França, trouxe o sistema ao Brasil e ajudou a fundar, no Rio de Janeiro, o
Imperial Instituto dos Meninos Cegos – primeiro centro de estudos para deficientes
visuais no país.
O braile permite que pessoas com
cegueira ou baixa visão possam ler. O sistema consiste em um alfabeto de
símbolos criados a partir de pontos em alto-relevo. Cada letra, número,
pontuação ou sinal é feito a partir de uma combinação de seis diferentes
pontos.
No Brasil, nem todos os
deficientes visuais têm, como Aimar, a oportunidade de estudar o braile. Muitos
moram longe de municípios com centros especiais de ensino e acabam sem aprender
a ler em braile e sem acesso a livros.
Em Brasília, o Centro de Ensino
Especial de Deficientes Visuais atende aproximadamente 350 alunos por mês e é o
único do Distrito Federal e Entorno. Segundo Aírton Dutra, diretor do centro, o
local recebe muitos estudantes de municípios de Minas Gerais, Goiás e Bahia.
O braile permite que pessoas com
cegueira ou baixa visão possam ler. O sistema consiste em um alfabeto de
símbolos criados a partir de pontos em alto-relevo Tomaz
Silva/Agência Brasil
Mercado de trabalho
Para Milene Cristina Orifisi,
deficiente visual de 39 anos, a falta de acesso à educação e a baixa
escolaridade tornam mais difíceis a entrada no mercado de trabalho. Ela
trabalha como gestora de redes sociais na Associação de Deficientes Visuais e
Amigos (Adeva), em São Paulo, e afirma que, na maioria das vezes, há um enorme
desconhecimento em relação à realidade dos deficientes.
“As empresas, muitas vezes,
colocam empecilhos. Acham que o deficiente visual vai ter dificuldade de
adaptação, não vai dar conta do trabalho ou não vai conseguir usar o banheiro.
Há uma má vontade até na hora de baixar um software para que o
deficiente possa trabalhar. Além disso, as áreas de recursos humanos
normalmente oferecem [aos deficientes] vagas de subemprego”, desabafa Milene.
A Adeva, uma Organização Não
Governamental (ONG) fundada em 1978, trabalha capacitando deficientes visuais
para o mercado de trabalho. Além de cursos de braile, são oferecidas aulas de
digitação, informática e orientação e mobilidade. Segundo Milene, as aulas de
orientação e mobilidade são prioritárias para a autonomia e deslocamento dessas
pessoas. “Para que eles possam ir sozinhos para o trabalho, que não tenham que
depender de ninguém para se locomover.”
Outra instituição que também
busca capacitar pessoas com deficiência visual é a Fundação Dorina Nowill para
Cegos, uma organização sem fins lucrativos e de caráter filantrópico que, há 70
anos, se dedica à inclusão social por meio da educação especial, reabilitação e
empregabilidade. A ONG, com sede em São Paulo, atua em todo o país e oferece o
curso de avaliação olfativa, a fim de preparar pessoas cegas e com baixa visão
para trabalharem com avaliação de fragrâncias, na indústria de perfumes e
cosméticos.
Dorinateca
Uma das iniciativas importantes
da Fundação Dorina Nowill para Cegos foi o lançamento, no ano passado, da
Dorinateca, uma biblioteca digital que permite acesso a um amplo acervo de
livros. Para ter acesso aos títulos, é necessário que os deficientes visuais,
ou instituições ligadas ao tema, se cadastrem no site www.dorinateca.org.br.
Susi Maluf, gerente de Serviços
de Apoio à Inclusão da Fundação, explica que antes da biblioteca digital, a
fundação enviava, para os cadastrados, livros impressos em braile ou CD's de
áudio. “Agora, com a Dorinateca, os usuários podem acessar online.
Todo o acervo fica disponível para download”. De acordo com a
fundação, já são mais de mil usuários e a biblioteca tem mais de 4 mil títulos.
“Ouvir, em áudio, o livro Noites
Tropicais, de Nelson Motta, foi muito prazeroso”, disse o mineiro Aimar.
Ele, que há quase 40 anos frequenta a Fundação Dorina, afirma que o trabalho da
instituição foi fundamental para o seu crescimento.
“Foi com o material deles que me
alfabetizei, que estudei. A Dorinateca é uma ferramenta que todo deficiente
visual deve conhecer. Ninguém mais pode dizer que não tem acesso a livros”,
disse Aimar, que é o campeão de downloads de livros no site da
biblioteca digital.
FONTE: Agencia Brasil - Edição: Talita
Cavalcante
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